A leitura deste livro é um aprendizado valoroso e rico sobre a passagem criança-adulto. È uma narrativa sensível sobre a infância a partir do olhar da criança.
Vejamos um fragmento do romance
"Pai não bateu em Miguilim. O que fez foi sair, foi pegar as gaiolas, uma por uma, abrindo, soltando os passarinhos, os passarinhos de Migulim, depois pisava nas gaiolas e espedaçava. Todo mundo calado. Migulim não arredou do lugar. Pai tinha soltado os passarinhos todos, até o casalzinho de tico-tico reis que Migulim pegara sozinho, por idéia dele mesmo, com peneira, na porta, na porta da cozinha, uma vez. Miguilim ainda esperou para ver se Pai vinha contra ele recomeçando. Mas não veio. Então Migulim saiu. Foi ao fundo da horta, onde tinha um brinquedo de rodinha d’agua--sentou o pé, rebentou. Foi no cajueiro, onde estavam pendurados os alçapões de pegar passarinho, e quebrou todos. Depois veio, ajuntou os brinquedos que tinha, todas as coisas guardadas─ os tentos de olho de boi e Maria –preta, a pedra de cristal preto, uma carretilha cisterna, um besouro verde com chifres, outro grande, dourado, uma folha de mica tigrada, a garrafinha vazia, o couro de cobra pinima, a caixinha de madeira de cedro, a tesourinha quebrada , os carretéis, a caixa de papelão, os barbantes, o pedaço de chumbo, e outras coisas eu nem quis espiar--- e jogou tudo fora, no terreiro. E então foi para o paiol. Queria ter mais raiva"( ROSA, 2001, p.139/140)
Nessa belíssima passagem, Guimarães descreve um duelo entre o pai e filho, o adulto e a criança. Na destruição física dos brinquedos ocorre o confronto da criança com o pai. Migulim, ao quebrar seus brinquedos simbolicamente mata a criança e faz surgir o adulto que ainda vai ser. Por um instante, torna-se adulto, antecipa o futuro e ultrapassa a margem que o separa do mundo adutizado. Só assim consegue enfrentar o seu pai.
"Pai não bateu em Miguilim. O que fez foi sair, foi pegar as gaiolas, uma por uma, abrindo, soltando os passarinhos, os passarinhos de Migulim, depois pisava nas gaiolas e espedaçava. Todo mundo calado. Migulim não arredou do lugar. Pai tinha soltado os passarinhos todos, até o casalzinho de tico-tico reis que Migulim pegara sozinho, por idéia dele mesmo, com peneira, na porta, na porta da cozinha, uma vez. Miguilim ainda esperou para ver se Pai vinha contra ele recomeçando. Mas não veio. Então Migulim saiu. Foi ao fundo da horta, onde tinha um brinquedo de rodinha d’agua--sentou o pé, rebentou. Foi no cajueiro, onde estavam pendurados os alçapões de pegar passarinho, e quebrou todos. Depois veio, ajuntou os brinquedos que tinha, todas as coisas guardadas─ os tentos de olho de boi e Maria –preta, a pedra de cristal preto, uma carretilha cisterna, um besouro verde com chifres, outro grande, dourado, uma folha de mica tigrada, a garrafinha vazia, o couro de cobra pinima, a caixinha de madeira de cedro, a tesourinha quebrada , os carretéis, a caixa de papelão, os barbantes, o pedaço de chumbo, e outras coisas eu nem quis espiar--- e jogou tudo fora, no terreiro. E então foi para o paiol. Queria ter mais raiva"( ROSA, 2001, p.139/140)
Nessa belíssima passagem, Guimarães descreve um duelo entre o pai e filho, o adulto e a criança. Na destruição física dos brinquedos ocorre o confronto da criança com o pai. Migulim, ao quebrar seus brinquedos simbolicamente mata a criança e faz surgir o adulto que ainda vai ser. Por um instante, torna-se adulto, antecipa o futuro e ultrapassa a margem que o separa do mundo adutizado. Só assim consegue enfrentar o seu pai.
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